O teu riso, Mariana, afasta o ácido sol do dia e acende-me a noite serena. Chamas-me "ia" e o que oiço é "mãe". Caminho pela casa penumbrosa e dou-te colo. Poisas-me no ombro a cabecinha loira de penugem e o teu pescoço delgado encaixa na minha estrutura pacífica aos outros. Ris, cúmplice, e fechas os olhos de rasgado verde escuro. Nunca me negas beijos e procuras-me em todas as casas. Se alguém chega, sou eu; se alguém chama, atendes chamando-me; se queres festa, abres-me os braços e corres para os meus. Na tua língua pequenina, o meu nome é deliciosa ondulação musicada. Recebes-me bem, abraças-me muito, embalas-me o riso, lutas pelo espaço sobre a minha perna, trono teu, despertas na Inês encantadores, fraternos ciúmes. Quando chegas, abre-se um dialecto de anjos nas horas do meu dia. E tudo passa. Tudo se arruma como livros numa estante, todas as coisas se encaixam em harmonioso embalo contra as horas amargosas, anjo meu pequenino e vaporoso, bege rosado, areia morna e claves de riso, nicho de horas do silêncio, mágica paz, Deus renascido nas minhas horas a sós com a lei do esquecimento, bebé em concha contra o meu neutro peito.
20.5.08
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário