31.5.08

Distracção de um génio?...

“De Regambwe, o cardeal negro do Quénia, recebera uma missiva de ainda maior urgência:
«... Os acontecimentos em África estão a desenrolar-se muito mais depressa do que parecia possível ainda há dois anos. Creio que poderemos vir a assistir, dentro dos próximos doze meses, a uma sangrenta revolta dos negros contra os brancos do Sul da África. Trata-se da consequência quase inevitável das brutais medidas de repressão exercidas pelo Governo sul-africano sob a bandeira do apartheid, e dos métodos feudais, arcaicos e por vezes brutais dos portugueses.(...)» ”.
(p. 146)

WEST, Morris, As Sandálias do Pescador, Publicações Europa-América, 1993
???
Ajuda para (me) esclarecer? Alguém...?

5 comentários:

Anónimo disse...

Numa viagem a Moçambique, há cerca de quatro anos, contactei com o êxodo dos brancos do Zimbabué e tomei conhecimento do temor dos brancos sul-africanos, dada a degradação da segurança que então já sentiam. Em ambos os casos a maioria correspondia à terceira ou quarta geraçães de gente ali nascida, os primeiros essencialmente agricultores que, como no farwest vinham com as suas caravanas fixar-se em terras moçambicanas. Os da África do Sul, onde havia gente muito evoluída, estavam em dispersão para os mais variados países de língua inglesa. A previsão desta gente era a de que, aqueles países sofreriam uma contracção económica, a curto prazo, e retonariam à barbárie. Observavam, como já tinha acontecido connosco, que, regra quase geral, sempre que um chefe branco era substituído por um negro este não era obedecido: - Então você é preto como eu e está a mandar em mim?
O motivo da pressão internacional, que conduziu os países africanos à independência, teve pouco a ver com questões raciais e muito mais com interesses económicos.
Conheço todas as ex-colónias portuguesas africanas e, meu Deus! a quem, e como, fomos entregá-las. As únicas que tem algumas semelhanças com democracias, mais ou menos estabilizadas, sâo Moçambique e cabo-Verde, mas ambas a viverem da caridade internacional, a que eles pudicamente chamam cooperação. São Tomé e Principe ainda não conseguiu estabilidade política e a Guiné é um caso perdido, onde os cartéis da droga já começaram a instalar-se, utilizando-a como placa giratória e aproveitando-se da corrupção generalizada. Em todas, as doenças endémicas praticamente erradicadas antes das independências, já voltaram. A sida é uma tragédia incontrolável.
Portanto, o que se está a passar em quase todos os países africanos fora da orla mediterrânica - com as exclusões referidas, em menor grau - entregues a regimes corruptos, não augura nada de bom e já era previsível.
Um dado novo é a recente "ocupação" da china, acompanhando a dispersão do seu superavit com a instalação dos seus naturais. Mas esses, como se observa com as terríveis ditaduras próximas, talvez porque têm telhados de vidro, pôem os seus interesses em primeiro lugar e não interferem politicamente. O Bispo citado, ou andava distraído, ou conhecia mal a índole e/ou a previsão da evolução dos acontecimentos
Um abraço

Anónimo disse...

Olá, Zé, como vai?

Agradeço o seu comentário.

Creio que a acção da obra de Morris West ocorre durante a chamada "Guerra Fria". Compreendo os dados que aponta e sou obrigada a concordar com afirmações que faz, por pouco "politicamente correctas" que possam parecer às maiorias coniventes com a cronicidade da mentira.
Confesso a minha ignorância quanto a tudo o que for "AfricanGate" (tomo a liberdade de chamar-lhe assim...).
O que não entendi foi a relação do apartheid na África do Sul com os portugueses e a frase que se refere aos supostos "métodos feudais, arcaicos e por vezes brutais dos portugueses"...

E sim, parece-me que África sofre de uma espécie de pandemia que dela faz o ninho certo para o caos. É, de facto, um mundo estranho, onde tudo o que é desordem parece perpetuar-se. Se assim não é, que imagem tem na retina quem nunca lá foi? Quase de certeza, a que tenho eu: caos!

[Agradeço, de novo, a passagem por este farol semi-abandonado que não abraçou a modernidade da orientação por GPS, num tempo em que não está na moda a independência. Teimosias de que não abro mão!]
:0)

Um abraço!
Inês Alva

Anónimo disse...

Olá, Inês, sinto que está bem e, com muito agrado, vejo que a luz do seu farol continua, com muito brilho, a rasgar brumas.
Inês, os portugueses, de todos os povos que colonizaram Africa, foram os que mais se ligaram aos seus nativos, originando, até, uma mestiçagem que os colocam no polo oposto ao apartheid. Como sabe, a luta pelos direitos, liberdades e garantias tem sido longa, lenta, penosa e, em tempos idos, houve alguns abusos, mas não exclusivos dos portugueses. A nossa comunidade era bem aceite pela população negra que, pelo contrário, não aceitava muito bem os mulatos. - Mulatos, filhos da puta, não são pretos, nem são brancos - diziam. No entanto foram estes, mais evoluídos, a encabeçar os movimentos que haviam de conduzir às independências, embora, depois, em minoria, começassem a ser afastados dos lugares de topo.
Na Africa do Sul a colonização foi mais violenta e discriminatória e é uma desonestidade intelectual atribuir aos portugueses o que por lá se passa, ou virá ainda a passar. Veja a resposta que eles deram ao apartheid: elegeram um governo que, em vez de resultar da escolha dos mais capazes, como seria curial, foi a cor o critério posto nessa selecção.
No tempo da "guerra fria", altura em que ocorreram as indepedências e em que se decorre a acção da obra de Morris West registou-se o maior desequilíbrio estratégico dos tempos modernos, com a ocupação dos portos de Angola e Moçambique a serem ocupados pela frota de guerra da URSS.
Um abraço!

Anónimo disse...

Adenda:
A propósito da violência que está a irromper um pouco por todo o mundo (tenho observado as suas peocupações com o que também se passa no Tibete) sem que se manifeste um sinal de ajuda internacional forte e corajosa, deixo-lhe um pensamento de Luther King: "O que me preocupa não é o grito dos violentos, mas o silêncio dos bons."
Ab.

IVA disse...

Olá, Zé.

Li o seu comentário atentamente e apercebo-me de como há grandes fatias da vida do meu país que ignoro, ou das quais faço uma muito pequena ideia...

Criar um blog passava muito por isto: "falar" com quem se aprenda. A frivolidade de tantas páginas na net torna-se tóxica.
Nesta fase da vida, na qual escrevo, escrevo e escrevo - aprendo a disciplinar-me; escrevo de noite e durmo de dia; esqueço-me de comer (logo eu!) - procuro aprender muito mais sobre as experiências por outros vividas, à falta delas numa vida tão "politicamente correcta", tão certinha.
E eis-nos noutro dos objectivos do blog: observar! Observar até ao limite, perceber as reacções humanas às situações, passar a palavras o que outros sentem...

Obrigada pela sua disponibilidade. O assunto do mail também me interessa, por ser do foro "espiritual", logo, politicamente pouco/nada correcto. A mentalidade vigente no mundo da web - em Portugal, repito, em Portugal, curto de vistas com o seu território é: acabrunhadinho - é a de acreditar, como aqueles novos apóstolos do sucesso à força, seguidores da seita d' "O Segredo" que o que interessa APENAS é o sucesso... económico. Ou que é a base para a felicidade. Como advogam a chegada lá? Através de... amigos! Pelos vistos é defendido, nas novas teorias, que se deve estender a mão para oferecer e, dentro da lei da reciprocidade (a DELES, a que ELES apregoam!), poderá receber-se a retribuição. Ensinaram-me o nome disso: interesse, aproximação quase por vampirismo (conhecer, ganhar confiança, morder, deixar a carcaça...)

Credo! Até parece amargura, que riso! Limito-me a constatar o que por essa web-lusa (de "loosers")tenho observado. Odeio gente interesseira, ou melhor, não a gente, mas o acto. Quem usa os outros não é gente e, em linguagem gnóstica, são vampiros da energia vital dos seus semelhantes... Brrr...

Os blogs são um mundo digno de análise, de facto. Há, neles, mais sobre Mentalidades e Cultura Portuguesa do que aquilo que aprendi na U.! :0)

Agradeço a partilha de conhecimento que faz com esta humilde casa do farol.

1 abraço.
I.A.