31.1.07

Mitos Urbanos II: da sedução (como apêndice)

Mitos Urbanos - seduzir: recusado por demasiado óbvio

Hoje, estive entre eles. Aconteceu-me partilhar o almoço com seis homens na casa dos 30 aos 45. Colegas do meu part-time, clientes da empresa, possíveis futuros clientes (que agora o serão, por certo!). Se sempre escondi a minha beleza discreta e me furtei a seduções, hoje forçaram-me a prova de feminilidade que roçou o tórrido. Mais uns minutos e eu teria dançado sobre a mesa, como o P. sempre me disse que gostaria de me ver, estava eu nos meus 22 verdes aninhos. Hoje, estive em dia (de) "verde": écharpe, brincos & olhos verde-musgo realçados por sombra preta como a noite. Roupas negras e cingidas sob largo casacão negro, saltos altos q.b. para balancear o corpo ao caminhar, cabelos ligeiramente escalados, maquilhagem discreta, lábios cheios de ousadia e mais belos do que nunca (a idade faz-me bem!) estive no meu melhor de sempre. Onde quer que entrasse, senti o poder de todos os olhos masculinos sobre mim. Ao contrário dos outros dias não baixei o olhar, não corei, não me esquivei ao uso de um sotaque neutro, voz e dicção que sei poderosíssimos no seu todo e que intimidam as mulheres e as fazem voltar-se em lojas quando falo ou os colegas fazerem silêncio quando em reuniões tenho de intervir... Sempre soube que me bastaria pouco para captar olhares. Evitei sempre seduzir porque me desgasta o espírito e me contraria a formação gnóstica de feminil-deusa-discreta. Por ser esse lugar onde aporto demasiado perto do que ocupam as pessoas desesperadas por aprovação, sempre neguei uma sensualidade que abriria portas onde acedem todos os falhos de talentos. Sempre fui too tough on myself, durona com os meus preconceitos sobre aquilo que represento. Hoje, aquele bando de homens espevitados desafiou-me a mostrar-me sedutora, apenas com o fito de ser pontuada de um a dez... Entre outras coisas descaradonas ... fumei o meu primeiro cigarro! Aquele adereço entre os dedos e a belíssima aliança que uso na mão esquerda (o que eu me rio com as perguntas que me fazem sobre o compromisso!...) para criar distanciamento na profissão, senti-me uma italianíssima Monica Bellucci! A magia que se sente quando se olha nos olhos um comparsa de tolarias para que ele nos classifique como fêmea altamente beijável! Bastou-me olhá-los intensamente nos olhos com os meus risonhos e semicerrados durante... 3 segundos! E o efeito daquele cigarro - que dispenso, preferindo o meu hálito puro, os meus dentes de neve, a minha pele de adolescente a um apêndice de inseguros -, a minha desfaçatez, a minha INSENSATEZ (adoro a palavra!) perante seis marmanjos babosos e orangotanguescos que se acreditavam donos da situação porque isso me faria bloquear... «Ah, querem luta, é?...»: Inês Alva - 6; Símios - 0!


Em termos evolucionais - e que me perdoem os meus leitores deliciosamente entradotes e charmosos que me seguem as palavras com fidelidade que aprecio - os homens estão, de facto, demasiado siderados pela beleza para serem considerados tão inteligentes como elas. Como nós. Como eu, que respondi às provocações de um séquito e ganhei uma aposta X 6. Já percebi - entre outras supostas verdades - que eles me preferiam fumadora (alibi para gestos cinéfilos e trejeitos labiais que os excitam até ao doloroso, se for usado o vagar certo e um certo ar de frieza ou desprezo), de andar que ondule as ancas em balanços de corpo felino, sentada de perna alçada, para pôr de lado o corpo e assentar na mesa um cotovelo atrevido, o penteado arumadinho, escalado, mas suficientemente nonchalant (adoro este termo!) para que se atirem para trás cabelos em gesto de diva, expondo apenas um lado da face, meia boca, um só olho sob o fumo de um cigarro, todo o pescoço, parte da nuca, parte do meu colo de garça (sou Inês ou não sou?) que, percebi, nunca, nunca deve mostrar a raiz dos seios mas dar pistas sobre a(s) forma(s) (essa de que eles gostam de fundos decotes é treta de carroceiros desesperados): eles gostam é de imaginar! Imaginação, muito, muito mistério e, sobretudo, CÉREBRO! O "timing certo", as palavras certas, os silêncios certos na cumplicidade necessária, as piadas sem excesso de sumo, e ouvir, ouvir, ouvir. Ter amigos entre os seres da masculina espécie tem-me ensinado a ser mais mulher, o que não passa necessariamente por seduções óbvias e esgotantes. A sedução permanente cansa-os. Deixemo-los darem-nos suave caça: deixemo-los acreditar que comandam. Afinal, não é esse o jogo?

A minha pontuação excedeu as expectativas e, graças a Deus, fui salva pelo toque de entrada para as aulas! Na minha cabeça cantava um sensualíssimo, delicioso Jonny Lang, pleno, pleno, pleníssimo de talentosos blues com swing de rock n' roll e senti-me Jessica Rabbitt com cérebro de Bellucci! A actuação acabou. Saí reconfortada, o meu pisar fez-se mais seguro, estremecia-me o corpo pelas colunatas que são as pernas femininas e alojou-se algures no meu centro um sabor mais acre do que o orgástico. Senti até ao âmago aquilo que preside a tudo e passa pelo cérebro e seus bons malefícios, esconjuros, malícias: poder! Ter ascendente sobre, ter "O" poder. Sabe a pedra de sal no centro da língua: queima! Ah, fogo bom (dum raio)!

;o)

P.S. Post a pedido. As outras fêmeas - supostamente alfa - queriam saber tudo! Pronto, TPC feito!

Boas noites! Salinas, salerosas, sábias!

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