4.2.07

A mulher sadiM

Midas no seu inverso, ela nasceu para excretar. Com várias provas dadas, tudo o que toca se dissolve em pó. Afigura-se-lhe útil o tempo gasto sobre o planeta e crê-se insubstituível pelo simples, nefasto, despiciendo lugar-comum: reproduziu-se. O talento foi o de uma noite com um aventureiro do asfalto. Arrasta agora o corpo e as fressuras de alma para pagar o alimento de mais uma boca. Para isso, dispõe-se a vender tudo o que não seja a carne do filho. De resto, nada lhe sobra de digno. O que oferece é digno de um freak show. Sejamos incoerentes: chamemos-lhe apenas mau gosto. Nada disto concerne o matusalém rei Midas. Pelo contrário e, por isso mesmo, ao contrário, na mesma proporção em que a crucificação de Pedro inverte a de Jesus Cristo: o primeiro passou o resto da existência seguindo um modelo muito acima de si; o segundo carecia de mortalidade. A "mulher sadiM" é a parca sobra da mulher de talento. Um homem vende-se; uma mulher sadiM prostitui-se. Excrementa-se na babugem das noites. Desce, degrau a degrau, a escadaria entre O Dom e a banalização engargulante. Não importa o que lhe chame, ela embute nas suas fauces o preceito budista: «Tudo é vazio saído do vazio». Assim viveu, assim morrerá: nada a satisfaz, em nada evolui enquanto a sua única fome for a de ego satisfeito. Vazio é o que procura, vazio é o que encontra. Os seus olhos nunca deixarão o pó do chão que pisa e vale mais o pó do que uma só das suas gotas vitais. Por isso apodrece tudo o que a rodeia: é sua função voltar ao húmus, não ascender.

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