6.6.06

Goelas

abertas até atrás das orelhas - exactamente no sítio por onde te será esticada a pele na plástica a que submeterás a carteira do marido -, teces loas. Ser eleito pela psiquiatria de contos que eu poderia ter criado - e não passarias, então, de uma superveniente personagem secundária com mau porte e tibieza nos contratos nos quais compras almas -, seria divertido aqui esmiuçar todos os teus complexos de suposta mente-arejada. És uma pénible putain em sexo oposto. Prostituis a vontade de exposição de personalidades sem um vinco que seja a delinear-lhes a postura de homo sapiens sem o sapiens-extra, erectas, portanto, mas sempre sem a dupla sapiência. Seria, talvez, fútil aqui alagar a maré de conclusões com que me inundam as meninges de escritora os répteis do teu ninho, mas... too bad, não o farei. Fico só à espera de ver como te crescem rugas, perdes dentição e se acumulam as manchas da idade na pele e no olhar pouco cristalino. Que cometas erros, é legítimo - quem sou eu, tão longe de Deus também, por vezes, como agora?... - mas esta verdade não calo: cheiras mal. Algo em ti apodrece com cada sorriso de circunstância. As lições retiradas à força dos heróis clássicos e da família que te fizeram um ser inatingível deram-te também esse ferrete: fedes. Há muito de enxofre no teu riso bem treinado; toda a hipocrisia nessa necessidade de apoiar os "inseguros" para que te apoiem depois na subida - meros degraus, percebi cedo - e um profundo, lodoso vazio de carácter e sobretudo espírito na alma que te habita. Vejo-te à transparência. Vivi mil anos antes de ti e nem precisei de ler todos os clássicos para perceber que em ti mora uma pungente, abissal fraude. Nem fico feliz nem infeliz por isso. Isto sei: a mim não me compras. És uma lástima, quando remiras até ao fundo os teus olhos, útero da hipocrisia dos infecundos. Nunca saberás o que é a criação: constróis palacetes de areia sobre as ruínas do grandioso. Usas. Digeres. Cospes fora. Tudo em ti é ensalivado, não há ponto sem nó, premeditas, dissimulas, insinuas-te aos machos que consideras certos - oh, como eles te topam e se riem! -, perfeccionista do bisturi que, gostas de acreditar, corta nos que não te conseguem engolir as raízes do brilho. És de diminuta estatura. Eu? Eu não sou ninguém. Porque trago na fúria toda a sabedoria da serenidade de uma infância com milénios. Tu passarás, eu... nunca! É toda outra a minha cepa: não tenho pressa...
Observo-te. Aprendo o que não quero ser por força. Como te sentes quando a máscara cai?...

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