Mozart ilumina-me. Meu Deus, ESTE homem existiu? TU existes, então!
Hoje, o dia acordou-me cedo.
Estranhamente, o frio não me condicionou. Levantei-me com os últimos pássaros, pelas 8. Persianas abertas, espreitadela ao sol: eu sabia que Março seria diferente! Frescura da higiene, risos, perfumes, roupas quentinhas, grande lenço negro com pregadeira de pedrarias foscas, novo gancho nos cabelos: metal dourado, fosco, rendilhado, semi-círculo que me apanha a trança pelo centro, deixando caracóis em liberdade, mortal estilete cortando a meia-lua de metal. Sinto que vou à Ópera! Rio a par com as manhãs perfeitas!
Oh, dias da minha vida: como precisei desta gloriosa manhã! O amor insiste em acenar-me, aos quase trinta e sete anos: aceito-o?... Investirei sempre na mesma escolha de Sartre e Beauvoir: o amor em casas separadas. Manias de não sujeição aos impérios de obrigações a que obrigam os impérios dos sentidos. Que fazer se nasci para manias aristocráticas? Se Deus não se importar e não me cumular de castigos judaico-cristãos... eu também não! Andava eu a pensar que o mundo precisa da culpa, da consciência, do medo da vida além-túmulo. E contudo. E contudo, reservo-me o direito às prevaricações: mais sal, mais sal à minha vida! Que venha o sal, mesmo se nas feridas! Direi, um dia, como o poeta: vivi! Paralelos & meridianos: não prejudicar outros com as minhas escolhas! (Rio do meu riso).
Prossigo o meu passeio pela clara manhã do dia lavado. Cumprimento pardais, rego plantas, compro mais Mozart, oiço os sinos das igrejas, palumbus de pombais vizinhos povoam,em bandos, os céus da cidade, ninguém deixou "partidas de Carnaval" no meu carro. Óptimo. Pôr roupa a secar, passar outra, arrumar em gavetas. Internet: só meia horinha... Mais um dia fechada a fazer os trabalhos para a escola. E que bem saberia Mozart sob o sol, ao volante do meu corcel negro, devorando quilómetros... De novo, um prazer adiado...
Amanhã, escola...
Noblesse oblige.
(suspiro)
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