15.2.06

Disto

Disto, sim, sinto falta. Disto que me baila nos lábios: o teu nome. Saudades de ti, de dizer-te o nome num zuído, a quase inaudível sílaba última do teu nome. Não é só da boca, não é só do cheiro, não é só da voz. É do lugar que a primeira ocupa no meu peito; das formas de nimbo que o segundo envolve; do suavemente atordoante redemoinhar do teu timbre, da dicção, do volume dessa voz. Naufragas, eu aderno. Consentes, eu imponho. Adentro, tu segues-me os gestos. Como explicar esta química? Como dimensionar a vontade que agora teria de ti se aqui estivesses? Como peço aos sentidos que se anulem se tudo me chama pelo nome que só tu sabes dizer? Como transponho a distância, a doença, o medo das esmagadoras verdades que só tu sabes revelar-me? Como fujo desta fracturante noção de que nasci para que me fizesses tua, mesmo se desencontrados - os nossos tempos seguindo caminhos diversos, tu, nesse país, eu, aqui -, te sinto a respiração, te revejo sentado ao meu lado no teu chão, te acendo novo cigarro, te beijo como a água chama a água? De novo, o ciclo inimitável: chama acesa, as nossas bocas ficarão acordadas por todas as horas da noite. Nenhum consentirá que o outro durma até que se nos esgotem os olhos, as mãos, o acervo de ondulações corpóreas, os nossos nomes para sempre à flor dos lábios, o teu filho - que nunca trarei dentro - para sempre no campo dos possíveis. É isto, a paixão sem cura? Viciaste-me. Viciei-te no meu corpo, na minha voz, nos meus seios, em todos os meus medos. Comment vivre autrement... hors de toi? Surplombée, j'accepte nos encores.
Che sera, sera.

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