8.2.06

De anjos & radicais

Esforçadíssimo(a) senhor(a) Skinheadangel@hotmail.com,
Apraz-me saber que gostou do post que escrevi a 5 do mês sobre os malfadados cartoons que ridicularizam o profeta. Desde essa altura até hoje, deixe-me dizer-lhe - porque creio que lhes perdeu a conta - que recebi, já, de "vocência" não 1, não 4, não 10, mas sim 19 (!) dezanove mails com 29 ou 30K, todos com uma suposta "lista de preços de Fevereiro" em attachment. Investigando no Google, descobri que se move num forum declaradamente extrema-direitista (White Pride World Wide (que nojo tenho de conspurcar o meu querido blog com este nome!), com site a condizer Stormfront.org (Iaaaaac!), sediado, creio eu, nos U.S.), onde fiquei, entre outras coisas, a fazer uma pequena ideia do que pensam as pessoas com as quais ombreia. Aliás, o seu nick só testemunha parte da estranheza.
Aprendi algo mais sobre um grande aviador e, afinal, um pequeno homem: Charles Lindbergh. Na escola, ninguém me disse que Lindbergh - um genial aviador - era também um obtuso xenófobo e um mentecapto convicto. A declaração que fez em Novembro de 39 na Reader's Digest só demonstra como era um minúsculo homenzinho, com a espinha dorsal de um verme e a abertura de espírito de uma qualquer leguminosa ou tubérculo. Agora compreendo (e que o meu Deus me perdoe a conclusão, porque não pretendo magoar a sensibilidade de outros como já sinto a minha, assim esfacelada) a tragédia da vida de Lindbergh que me fez - criança ignorante e pura, eu - sentir tanta simpatia pela sua figura em tempos idos: aquele rapto do seu filho pequenino e seu posterior assassínio após entrega do resgate não teria a ver com ofensas feitas a outros estreitos de espírito como ele, alguém que ele tenha ofendido, provocado?
Ainda há dias aqui escrevi: pagamos sempre pelos nossos actos, de acordo com a lei do eterno retorno. Quem faz mal aos seus iguais perante Deus derrama sobre os seus filhos a desgraça. E - sua grandessíssima criatura de Deus - acredite-me, Skinheadangel, eu não sou assim fatalista por ter costela árabe! Apesar de o nome deste farol ser Azimutes (sim sim, palavra nitidamente árabe: eu ADORO palavras de origem árabe!) eu cá só tenho ascendentes de etnia escurinha pelo lado do pai (houve, em tempos de escravatura nos U.S., um familiar que cá se refugiou, diz-se), o que se nota pelos meus lábios carnudos, embora o meu bisavô materno - esteve na Batalha de La Lys em 1918 - fosse loiríssimo de olhos azuis e de pele branca, maxila forte como um nórdico genuíno (seria ariano?). Quanto a mim, sou uma judia chapadinha, de rosto ameninado, sorriso terno e modos graciosos. Poiso muito os olhos no horizonte e sou algo magnética na simpatia, o que faz de mim, estou certa, uma portuguesa de gema (até tenho os defeitos da "raça" e tudo!).
Nada mais havendo a dizer, entenda que sou uma mulher muito feliz.
Quanto a si, veja aquele filme com o Edward Norton sobre a xenofobia ou aquele outro francês, La Haine. Verá que aprende a ser feliz como eu. E fique ciente de que já se provou (há mais de 6 anos) que não há raças humanas: apenas etnias!
Viva a miscigenação! Vivam todas as etnias! Vivam os rostos multiétnicos, que dão sempre beleza a qualquer multidão!
Assim me retiro, pois nada mais tenho a dizer-lhe. Espero que na próxima vida "vocência" nasça em família hindu, rasta, muçulmana, taoísta, budista, católica (sem radicalismos!) ou se aposse de qualquer outro tipo de crença que lhe permita ver o mundo como deve ser visto: uma grande Ca(u)sa Comum!
Beijos angelicais sem cabeça skin, que eu tenho cabelos que cheguem para mim e para si!
Paz!
:0)

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