14.5.13

Choverá em breve.

            O tempo aqueceu, mas não de mais. As crianças atinam, neste final de ano lectivo, quando se termina de hoje a um mês exacto e a chuva, a bem do meu espírito, ameaça, graças a Deus, os decotes de tanta vendedora ambulante de corpos sem-tom-nem-som, tanta axila malcheirosa, tanto calçado a bater, ríspido, no solo... Que tédio, a estupidez feminina, em vendas de bazar, a vulgaridade tropical de tanta pele à vista. Que será feito da sobriedade? Da discrição? Do recato...?
            As pessoas estúpidas (esta palavra diz tudo) não sabem que o são, dizem-me aqui ao lado. Por tentativa e erro, aprendo a não ser tão expansiva como esta mulher mais velha que  me fala, conformada, pois sei que excepto em casos raros - nos quais todas as palavras são desnecessárias pois o comprimento de onda é similar, bem como os estados de alma - o nosso interlocutor pensará que é a ele que nos referimos. Sendo esse interlocutor versado nos vários níveis da idiotia, ficará a pensar, forçosamente, que nível terá de atingir para ser tão estúpido como o que acaba de o ofender, por se atrever a dizer a verdade... Conversas estéreis, portanto, de gente que não sabe ler olhos nem atitudes e se limita ao óbvio.
            Prefiro, de longe, aquilo que me chegará com a chuva que aí vem: corpos menos expansivos e ostensivos, com menos odores, gente menos relaxada, mais metida com afazeres do que com as alheias medidas corporais ou de intelecto.
            A chuva, sábia, igualitária sem panfletos nem luzes de bazar a comprovar da sua utilidade a vários níveis, obriga a baixar olhares, em pestanas onde as gotículas impedem uma postura arrogante, gente entrevista apenas por entre guarda-chuvas, a sobriedade das roupas que envolvem, resguardam de olharapos, aperfeiçoam objectivos, porque há lugares onde ir, a esplanada enoja, os outros, todos os outros têm pressa, sempre muita pressa de fugir a uma das mais belas manifestações da natureza...            
            Fico-me com a chuva, desejada, imperiosa na sua subtileza, poética na forma. De uma só vez, todos somos sábios como idosos, pensativos como filósofos, mas fugazes, breves como crianças em transgressão: mais genuínos, em suma. Acredito piamente que a chuva é sempre o nosso melhor lado.

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