8.1.13

«Uma Agulha num Palheiro»


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Então, dei por mim a pensar que os americanos (os dos E.U.A., pelo menos, aqueles de cuja way of life levamos, ao longo de uma vida, monumentais, cavalares injecções na panóplia de filmes que acabam sempre dentro das 4-5 fórmulas do costume) nunca prescindiram do bem a vencer em quaisquer circunstâncias nem de bandeiras hasteadas e apregoando alto que aquela é "a terra" onde TUDO o que seja devorável, por infantil, funcionará sempre.

Uma das maiores desilusões dos últimos tempos: Uma Agulha num Palheiro, de J.D. Salinger. No original, Catcher in the Rye - título supostamente inspirado num poema de Robert Burns, mencionado na conversa entre Holden e Phoebe - consegue receber (em mais uma ridícula tradução à letra dos sempre estranhos brasileiros) o estranho título de «O Apanhador do Campo de Centeio»...

Trata-se de mais uma daquelas histórias plenas das deambulações de um ser humano perdido entre as suas mal refreadas emoções e a realidade pesada e repetitiva. Mais uma luta contra o tédio. Assim será a chamada "obra-prima" de Kerouac, assim são todas as obras de Paul Auster, assim é o insuportavelmente redundante Pelo Mundo Fora, de Julia Glass: previsíveis, inacreditáveis acervos de todos os lugares-comuns da ment(alidad)e americana. Aconteça o que acontecer, haverá sempre uma justificação para tudo, uma desculpa para tudo, como se não passassem de crianças sem preparação para as desilusões e tivessem de ser compensados por todos os males que a História lhes reserve. Doentiamente psicanalíticos, preocupados com explicações para todos os seus comportamentos, Woodyallenescos em tudo, excessivos no que não importa, histriónicos até ao doloroso. Por aí passa, de certeza, a relação deste povo com a comida, com a crença psicótica no poder das armas, com a necessidade de expor toda a "roupa suja" familiar, voire íntima, em bares, seja a conversas de amigos ou de novos conhecimentos. Não se aguenta (de) tanto egocentrismo. Pude verificar de perto: como aluna Erasmus, enojava-me a obsessiva necessidade (o show-off) de centralizar TODAS as atenções dos meus colegas dos Estados Unidos... Tóxicos. Bebés à procura da chupeta, berrando em todas as direcções, tão bem intencionados que qualquer filme europeu os deixaria, soçobrantes, colados a crises existenciais para as quais nem saberiam, sequer, formular as perguntas. Há pouca realidade em toda aquela gente, como se todos nos gritassem, sistematicamente: «Alguém pode esbofetear-me para que me controle, por favor?»...

Ou o meu cinismo europeu não me permite ver a suposta grandeza destes autores e de todo um star system baseado em falsas questões e premissas, ou a literatura desta gente é uma monumental (com (vossa) licença) merda!... Gira tudo à volta dos mesmos melosos temas, tal como praticamente toda a música sussurrada ou sambada do Brasil soa a melosa batalha hormonal, a pernas que não permanecem juntas por muitas horas, tudo esbarra no enojante tema do "ámôrr", tudo é tão forçado e redundante que nos perguntamos se alguns dos habitantes do território resistem sem pastilhas para o enjoo, tal é o bombardeio sobre os sentidos. Verdadeiros insultos à crueza do intelecto e maneiras de sentir de milhões de europeus que, mergulhados na lucidez, só podem afastar de tudo isto o seu gosto pessoal com náusea.

Claro que eu também posso ser tão inculta que só entendo a crueza e gosto duvidoso da pintura de Picasso depois de ter me terem sido ensinados os motivos para o seu ódio ao que mais amava, as mulheres, ou depois de me terem sido explicadas as fases "Rosa" e "Azul"... Será defeito meu, mas sempre que ouvir uma suposta "estrela" de Hollywood dizer que o livro que mais o/a marcou foi o supracitado de Salinger, acrescentando que foi ele que os levou a ler Somerset Maugham ou The Great Gatsby, torcerei nada mais, nada menos que o meu sensível nariz europeu e, tal como o protagonista da obra, trarei à tona o sarcasmo e  o ódio a quase tudo o que me rodeie de imbecil, dizendo como o polícia ou o empregado de hotel no filme "O Turista": americanos...


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