26.4.12

Non compos mentis*

Distraída com Lisbeth Salander* & a Saga Millennium, filme ou romance, esquadrinho tudo por informações. Além de Bellucci, descobri outra mulher, Rooney Mara, da qual gosto de pensar que Salander é um alter-ego. Dormíveis, todas elas.Orgulho-me de pertencer à espécie e noto os homens tão pouco inteligentes - apesar de atraentes por excelência, muitos  - que é confrangedor circular entre eles. Defendo-me - como em menina - com olhares baixos ou de fuzilamento, para abrir caminho. Reconheço-lhes o medo no olhar: o intelecto e a agudeza clarividente assustam-nos. Que poder tem uma mulher que o saiba! 
Não dei por cravos de Abril, uma melhor economia et pour cause com menor número de notícias a propósito, nem pelas horas que passaram, passando-as eu a dormir. 
Há escolas melhores e piores, miúdos que adolescem ultrapassando dramas de época através de conselhos que me pedem por e-mail e rendem, em aulas, mais do que a minha imaginação pediria nos meus melhores sonhos. 
As minhas crianças crescem,  assim como as duas suculentas e o cacto envasados no parapeito da janela da cozinha.
Continuo a rir-me para pássaros e crianças com olhos fundos que me perscrutem. Os desafiadores com sapientia põem-me no rosto o riso dos que reconhecem os iguais!
O homem que mais me agrada ainda me encanta com a sua voz, mesmo se por telefone, às vezes, lá de longe. Ah, soubesse ele como e voaria até mim, já quente e aceso! Não me faria rogada: se quero, digo; se quero, faço! Ele gosta. Somos dois. 

Deixei-me da praia, optando por bibliotecas, mas é tão difícil: a falta de educação banalizada por certas ideias políticas, a liberdade de tudo e mais alguma coisa, a gente poucochinha que fala alto e mal e nunca soube estar são um borrão na paisagem, como nódoas em tecido de qualidade. Há gente a mais em todo o lado e com vociferante palavroada, da que dói. Chi pensa male, parla male,  dizia o querido Nanni Moretti! Alguém há-de pagar por tanto asco cobrindo o planeta. Morte aos grotescos! Goya pintou-os bem, mas eles não se reconheceriam, de tão macacais...
Segundo a bisavó R., até dos cabelos perdidos teremos de prestar contas, um dia. Não a um Deus, mas a algo maior que Ele, algo não inventado pelas nossas vãs filosofias. Os humanos são fossas com pernas e pensam que pensam que pensam. O mundo é, cada vez mais, um misto de fluídos mal aproveitados, actividades neuronais abaixo da média, sinapses tão sinuosas que não fazem tilt, amálgama de odores, miscelânia de vozes sempre excessivamente altas. Será da minha narcolepsia ou da "ruivice" escondida?... A sensibilidade é demasiado cara e estou farta de reconhecer direitos a seres tão viscosos que nem merecem o chão que pisam. Fartinha de ajuntamentos, populismos, bárbaros e solucionadores profissionais dos males dos outros, com remédios para calos que curam também dores de alma...
Embrulho, por momentos, a sensibilidade e repito: o mundo anda a precisar de uma guerra! Alguns, aqui em casa, já me imaginam radical, de cinto de granadas a substituir o "de ligas" que parece ser apanágio do objecto-mulher! Eu, não! 
Busco um Oriente do Oriente no sono. Enquisto-me, calo-me cada vez mais, digo só por papel o que quero dizer. Demasiada tonelagem, isto a que chamam vida: sobrevive-se. 
Demasiada, tóxica, a estupidez humana cresce como as raízes vermelhas dos invasores de Marte, n' A Guerra dos Mundos.
Leio só os bons: Richard Zimler e João Tordo. A fixação de Zimler em pássaros, difusa, esvoaçante mas que surpreendo sempre, como reflexos fugidios de voo nas páginas valiosíssimas que escreve; Tordo e o seu "O Livro dos Homens sem Luz" - e eu a pedir que ponham em filme do fantástico, por amor de Deus, o homem-monstro-biónico que se desconjunta, sem alma -, a inteligência de uma história bem construída, negando o império dos floreados de vácuo a que este pretenso país costuma chamar "literatura"...
Mas ai dos livros! Moribundos uns, já mortos outros! Só os compro anteriores a 2009, não vá o "aborto" ortográfico tirar-me a paz de espírito que é ler na língua nativa...

Destas e de tantas coisas se me enchem os dias e, supostamente viva, sou assaltada como milhares, pago impostos, oiço o gado que, dizem, nos "governa" mugir nos assentos do Parlatório,  aquecidos cuzes, vidas algodoadas, macias, eles, que tinham de nem ter o direito de esboçar sorrisos, "Muit' bãnh, sô dep'tado, muit' bãnh"... Um dia destes, um qualquer breivik vai-lhes ao paraíso e mata-lhes as crianças, zás! Oh, ignomínia! Há-de haver cada vez mais suicídios-dos-que-levam-muitos! Admirem-se, pois, com a "degradação mental" das gentes! 


Como sempre, também eu espero a morte para breve. Sem ela, nada faria sentido e, de facto, é penoso andar por entre gente que reputo ao nível de Jean-Baptiste Grenouille, o anti-herói de Süskind. Poderia o mundo ser mais torpe?...
Valha-nos a Arte, sem o perdigoto auto-comiserativo-&-ai-que-eu-quero-uma-mãe-p'rós meus filhos dos valterhugomães planetários. É ou não é o mundo um hino à estupidez?... Quem lhes dá o direito de nos enojarem? Abaixo a cultura latrinária instituída! Abaixo a "síndrome de Furtado"! Abaixo o "EUsismo"!


Deus, quem quer que sejas, livra-me dela, da Grande-Mãe acefálica (sem falo), mas tão-pouco apenas acéfala que nos nivela por igual e nos atira com os seus ruídos refocilantes envoltos em palavras como direitos, liberdades, o-qu'é-bom-é-p'ra-se-ver... Marca aí na agenda, para breve, a minha saída deste manicómio: vaidade, tudo é vaidade. 
Tenho frio do lamaçal: põe-me sobre os ombros a toalha, a grande pacificadora, e deixa-me ver depressa os tais pontinhos de luz à frente que os cientistas dizem ser o cérebro a desligar, coisa que, supostamente, não se faz num clic, mas sim em muito tempo. Tudo aqui é tão "gadoso", visceral e dá cá uma sede!... 
O relógio azul e gigante, ali ao lado, diz-me que já é outro dia e não consigo decidir-me: levo o guarda-chuva verde-imbecil ou o vermelho-revolução? Fingirei, enquanto não adormeço, que me preocupo com essa monumental merda a que chamam moda, para dar repouso aos neurónios que, espero, ainda são muitos milhões! 
Pensar dói por todo o lado como a vesícula dói no nosso centro por irradiar miasmas, como o prazer dói no nosso centro por ser grande a ânsia de mais, como os olhos vêem tudo azul depois de os termos fechado sob o sol horizontal, como o sono se abate sobre o verde nostalgia destes olhos que querem fechar-se... porque dói, porque é bom, porque fascina, porque desgasta e entristece. Em suma, Grande-arquitecto: porque não me fizeste estúpida e contentinha?...

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