31.8.08

Na mouche

Há uns tempos, o Dr. Hernâni Gonçalves referia-se - com muita graça e num programa de tv - aos "invejosos digitais". Registo a expressão por a ter considerado - então, como hoje - de uma incrível pertinência. Dessa sub-sub-espécie conheci inúmeras vítimas (eu mesma o fui) e, embora me custe a abordagem desse grande anátema nacional que é a "doença do i", tive de reconhecer que também através da rede esse tipo de vampirismo se arrasta, se aloja e se atiça, em vãs contorções de destruição. Resumindo, o que não nos mata torna-nos, definitivamente, mais fortes. Também descobri que há um inferno próprio para os agentes duplos: é desde o interior que se envenenam e nunca, nunca estarão satisfeitos, por mais que afocinhem e refocilem nos cadáveres. Seria inocente acreditar que todos os humanos buscam a paz de espírito, pois há muitas escalas de valores e seria impensável que nelas entrassem sempre os mesmos factores. Cabe-nos manter a cabeça fora de água e persistir, persistir, persistir. Esta casa do farol é uma pequena bandeira que - até que a guarde enroladinha com ternura num armário - insiste em dizer pouco, marcar pouco, mas manter-se a fiel depositária daquilo que as artes insistem em provar que existe e teimosamente "radiografam" a cada dia que passa, contra todas as cínicas previsibilidades: o conceito de alma humana.

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