2.6.08

Senectute

Encanta-me a pose de majestática humildade. Nas lojas de Azimutes, os antigos proprietários recolhem-se. Acolhem-se em cantinhos, sentados em banco ou cadeira suave que lhes receba os ossos plenos da curvatura dos que servem e se inclinam, reverentes. Seja em que comércio for, causam-me a mais profunda das ternuras. A minha reverência, contudo, vai para os que escolheram a poeira dos livros, o reino das palavras, o cheiro a infinito que bordeja o reino divino. Quase enclavinhados, perdem centímetros de estatura, mas ganham em porte, enquanto não lhes chega a hora certeira que alguém há-de decidir. Ali ficam, sorrindo a quem entra, fazendo vénia a quem sai, mal sabendo da nobreza que inspira a sua simplicidade de anacoretas, de vigilantes testemunhas de um mundo que já foi. Esta magia de morno incenso não existe, nunca existirá nos grandes, desinfectados, gélidos edifícios do comércio da modernidade, onde, assumo, gosto de me mover. Falta-lhes, assuma-se, o rarefeito mistério de que são feitas todas as densas ficções...

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