Não é só a harmonia da casa, o arranjo de pequeninas flores verde-alface em jarra fosca, a mesa de suave cor de areia e cheirando a novo, os pequenos cactos espalhados pelo cimo dos móveis baixos, a colcha azul-marselha, a luminosidade dos cortinados brancos, a mantinha de polar lilás que me envolve o colo quando me sento a escrever, os candeeiros suaves em lugares estratégicos, o cheiro em tudo a lavado, a fruta fresca em base de vidro, os panos transparentes bordados em suave prateado, os retratos de família ou as milhentas caixinhas de madeira ou forradas de tecidos delicados. É também a frieza das cadeiras de acrílico transparente, para que a sala pareça livre; as outras, nos topos, de leve madeira sépia com barrinhas, o mesmo cheiro a ceras e tintas de uma certa loja de artigos importados que visitava em França, os chãos de tons claros, os livros que escolhi para viverem comigo, a música que ponho, um ou outro incenso, uma ou outra pedra do rio ou da praia, caixas da correspondência que ainda recebo, eu, que continuo a escrever aos que amo, a toda a gente maravilhosa que Deus me pôs no caminho e me abençoa os dias.
Não, não é só isso. É a própria ideia de harmonia em tudo, de odores a limpo, de refeições com cor e viço, de sons feng-shui, longe da azáfama da cidade. Por isso me descalço, por isso me sinto bem, por isso reservo a mim este reino de paz. E por isso, por tudo isso e mais que aqui não digo, não vá o alheio ciúme empobrecer o brilho dos meus dias, volto a dizer: sou uma mulher feliz. Como poucas.
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