Viver quase em temporário superavit.
Ter visto I Am Legend e ter sobrevivido, colada à cadeira, mordendo o pacote vazio de pipocas, apenas um casal anónimo por companhia na fila última da sala escura, os mutantes de pele cinza do filme tiritando na escuridão densa e esmagadoramente silenciosa das criaturas da noite na luz do dia.
Ter flebites nas mãos e pulsos provocadas por soro e antibióticos, quilos a menos, voragem de equipar a casa para a viver agora que estou cá fora [com flebites ou sem elas, posso regar plantas, fazer origami, visitar gente, beijar aquele homem, usar casacos longos e saias curtas com sapatos de verniz (e a moda é um já velho asco que finjo suportar!) e, sem satisfações a Deus nem ao demónio, conduzir pela noite, montanhas adentro].
Fome de voragem de viver, riscos calculados, danos colaterais, sangue borbulhando sem fastios. Cicatrizei. As flores antes amarelas são agora brancas: amo a minha casa, nódulo nidificante onde me prendo com nó górdio. Só a minha imaginação não tem limites: voo por onde eu quiser! Deixei de ter medo. Tenho asco aos pusilânimes. Sem receios, posso ir onde eu quiser. A prova? Escrevo só para mim, dentro deste corpo debato-me devagar com a existência do meu leitor. Nunca se sabe onde poderá estar quem leia e entenda cabalmente. O meu conforto vai até essa desfaçatez. A de saber.
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