26.6.07

Negra

Se não me engano, uma sexta de aziaga memória. Essa parte da História mostrou-me - no 8º de escolaridade - que nem os mais titânicos sistemas económicos estão protegidos contra um "crash". Se não estão eles, o que está? As neves do Kilimanjaro? A beleza de Helena de Tróia? O clima? A simpatia entre humanos? A ideia de eternidade, de "marcar" o mundo, de afanosamente juntar amigos como se juntam peças em linha de montagem com vista a um objecto de culto - nós -, ainda me diverte. Se alguém marcou lugares, pessoas, se resistiu enquanto memória além dos cinquenta, cem anos após a sua morte não terá sido pela simpatia, por certo. Disso, há muito quem. Após os ditos, os pensados, os ego sum, o que nos sobra? Isso mesmo, sem o s: obra. Sobram actos. Não gestos - memorabilia típica de gerações videoclip - a mão que agarra o ar fora do carro, a nuance de sol no loiro postiço, o dentinho que brilhou com sparkling de bom dentífrico, os bloggers que, naquele jantar nos levaram em ombros por sermos os melhores da nossa rua e arredores, o nosso riso naquela foto onde outros lambe-botas se esmagam para fazer parte. Há muito dos humanos que não entendo. A vaidade - a presunção, será mais ela - faz-me cócegas nas meninges. Se "o pior cego é aquele que não quer ver", eu não vejo quem seja ufano. Sou do pior, portanto. Ou há mérito, ou morreu e já fede quem quer que se alteie nas suas tamanquinhas fugindo para coturno. Andar no mundo para agraciar os egos dos outros? Nãh!... Os mais imbecis entre a bosta dizem "Eu sou uma pessoa que...", "Eu sou muito competente...", "Farto-me de trabalhar...", "O mundo não me dá valor...". Costumam ficar a falar a sós. Eu já saí entretanto para respirar oxigénio. Como um bicho banal. Recuso a aceitação asinina de que a poeira de estrelas daquele tipo à minha frente na fila, da vamp à minha rectaguarda, do adolescente às minhas dez horas ou da avozinha às minhas quatro seja de uma galáxia melhor do que aquelas de onde provêm todos os outros. Tudo isso será paisagem. Já faltou mais. Tem mais valor este oxigénio: é invisível. Sem querer ridiculamente parafrasear Saint-Éxupéry, não é só o essencial que é invisível. Também o óptimo o é. O que é verdadeiramente genuíno não se vê ou prefere ser absoluta e esmagadoramente discreto. Subtil, ágil na fuga. Soliloquial.
Por isso rio com os agradecimentos a "bloggers que nos colocam entre as suas preferências". Gostaram? Pronto, agradece-se po escrito mas por mail. Haja sobriedade. Agadecer no blog? Agradecer no blog?... Um blog serve para agradecer que outros leiam o nosso blog? Isso, essa simpatia, está muito longe da urbanidade. Do carácter. Do real interesse. Do que seja o genuíno: a natural. I am a natural. Tudo o mais me faz cócegas meníngicas. Não entendo a necessidade de aprovação, a falta de rigor, de liberdade no âmago. Uma inenarrável solidão adeja entre as massas. Interessante, social e antropologicamente. E ainda rio mais quando me demonstram que há uma parte importantíssima da vida social que eu ignorei. Supostamente, por isso me ignoram. Óptimo. Para isso criei eu um blog. Para ser ignorada. Aqui à minha volta, a sala ferve de vida social. Nope, not interested! Go away!
Bloggers que por aqui passam dizem-me "simpática". Talvez se enganem, com tudo o que um talvez encerre de dúvidas, mas pessoas simpáticas sempre me pareceram alguém que pede socorro...
Tant pis, ça m'est égal. Et hop! Vive le silence!
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