16.7.06

Fiu-fiu

Há um jeito especial para eles herdado de um antepassado. Invariavelmente, ao fim de algum tempo, comem da minha mão. Aceitam pequenas ofertas das pontas dos meus dedos. Depois, procuram o alimento directamente dos meus lábios. Um houve, do Japão, que deixava que o massajasse com chop sticks, os pauzinhos chineses para alimentação, baloiçava sobre eles se os colocasse à disposição, cantava quando eu cantava (Ella Fitzgerald era um must!) ou lhe punha música melodiosa, bebia gotas de refrigerante das pontas das minhas unhas. Um dos melhores espectáculos que há é vê-los no banho. Ainda agora o faziam, enquanto eu ria com o estardalhaço. Tive um que saía para arejar e voltava a "casa" sereno e refeito.
Pardais de Java; Rouxinóis do Japão; Canários. Gosto desta malta toda. Os primeiros são extremamente inteligentes (tenho agora um casal: ele, bicolor; ela, branca) e não me surpreende esta notícia. Do reino animal - e já que não posso ter uma tartaruga (eu sei, eu sei, seria estranho passeá-la no jardim público, mas eu nunca tive medo da originalidade) - elejo os pássaros. Antes de ir dormir ou pela manhã, rio quando se inclinam no poleiro, quase dependurados como preguiças, observando-me da cabeça aos pés. Enquanto lhes digo uns olás, observam tudo, os brincos, os arranjos nos cabelos, os desenhos da roupa, os movimentos dos meus lábios. Curiosos, dois olhos laterais, um por pássaro, como efígies egípcias. Nos últimos dias de calor, se passo com pouca ou nenhuma roupa, ficam ainda mais intrigados, colados à grade da gaiola, observando pormenores mais... desconhecidos. Então, o verbo inglês to stare ganha uma nova dinâmica: não sou bird watcher, mas os birds watcham-me bué!...
Vou desligar as luzes: há uma sinfonia na minha casa!
Shht... Boa noite.
;0)


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