10.7.06

Dilemática,

Azimutes, dia décimo do mês do meu nascimento,
o sétimo das luas mágicas.


a hora arrasta-se frente a um mar nevoento. Azimutes espalma-se contra um céu onde se enovelam nimbos de humidade. Um gaivota retardatária ainda há pouco me distinguiria no areal. A errância protege-me de mim e dos dilemas que no meu peito entretece esta semi-costela de escritora. Cada vez mais, o vício da escrita que vai ganhando um público. Consumo interno. Secreto, ciciado a ouvido.
Hesito entre a morte da heroína em hemoptises de ex-alcoólica - a melodramática golfada de sangue no mercado municipal, frente às flores enfileiradas após um café sobreaquecido - e o mais composto atropelamento e fuga com a estética não menos trágica mas mais "limpa" da hemorragia interna... Terei de usar de misericórdia: essa mulher é mãe de dois. Sei que terá morte breve: o último a ouvi-la será um desconhecido em trânsito para um lugar de onde regressará anos depois com o ferrão de um legado na consciência. Alguém saberá um segredo. A seu tempo.
O meu olhar faz-se oblíquo como o da "Camponesa" de Leibl. Noto a queda de uma noite de benesses. Ao longe, na duna, por entre os gatos que saltitam, o torso de um homem paciente que me sabe perdida em narrativas fabricadas. A minha mente inquieta para compor mais um puzzle: a téssera em falta assomava-me ao espírito que os olhos deixavam transparecer,luminosos, quando dois braços mornos e nus me envolveram, o bafo de uma boca quente que ri e me repete a palavra "casa" junto à nuca. Sei que hoje não escreverei mais. Sei pelo langor com que os meus cabelos foram soltos na brisa por mãos experientes. Entrego-me a outras narrativas. É sobre um corpo que escrevo então, este diário. Não serei eu, contudo, a tornar memorável a data que encima o texto. Limito-me a responder a estímulos. De resto, nenhum de nós costuma prescindir de imaginação, vagar, risos brancos como a espuma que nos beija os pés. Noite, sê longa...

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