19.6.06

Ao largo,


a noite desce sobre a vaza. Aconteceu-me não usufruir desta proximidade. De entre as várias promessas, fica a de voltar aos primórdios: este mar em frente tem-me chamado pelo nome nas tardes contra-relógio, nas manhãs com compromissos ineluctáveis, nas vastas noites de trabalho.
Entretanto, aqui onde me encontro, portátil no colo frente à espuma que me beija os pés, crescem as responsabilidades quando se sabe de quem nos lê, mas nunca a ponto da intimidação (digo eu, embora a "cartimância" dos meus readers seja de real estaleca!). Sorrio dos velhinhos 140 links (!) que a esta casa foram feitos no passado: destruí essas prisões! Viva a sadia provocação dos quotidianos nadas colados às jantes do pneu especial (ih ih)! Para sempre, a libertação do compromisso com as aprovações de quem quer que seja: ou se é, ou não se é agreste. Eu...?
Eu sou-o como é agreste a areia que o vento norte faz salpicar a pele, as lianas de longos sargaços verde-seco que se prendem a tornozelos em ânsias de ganhar a fundura de que fala o povo nortenho. O azul-petróleo deste mar imenso que é meu por herança - como são meus Moledo, Lisboa, a costa alentejana, o mar da Galiza - supera os azuis do bem-amado Toulouse-Lautrec.
Deambulo, escrevo, preparo-me para as férias: é esta a última semana lectiva! Aprendi mais do que nunca, fiz-me mais forte, saio infinitamente mais rica: este ano, sei que não me causarão saudades as correrias pela escola, os seus prazos, os seus ululos de loucuras adolescentes. Agora, a tese avança para o seu fim! Chego, enfim, a casa. Regresso, regresso a quem fui! O luto que trouxe perfaz, em breve, um ano. Volto a soltar os cabelos na brisa e oiço novamente música! De hoje a um mês, motivo de sorrisos: terei, então, 37 gloriosos anos. Como sou feliz é quase inconcebível...
É isto, voltar a casa. É isto a serenidade entretecida de júbilo mal disfarçado. A música volta a saber-me a chocolate preto. Volto a ser eu, aqui, enquanto me deixo enlevar por Maya Nasri, a libanesa de Khallini Biljao que em boa hora capturei para casa e oiço vezes sem conta! É isto dançar com gosto na imaginação, por haver gente em volta. É isto ser, estar VIVA!
Obrigada a todos pelo discreto apoio & por entenderem as piscadelas de olho da ficção que só detecta quem conhece, na alma, a mulher que habita a casa do farol de Azimutes!
Aos que aqui viram (desejaram mesmo ver?) bipolaridade ou esquizofrenia, boa sorte para diagnósticos futuros: a previsibilidade não consta da minha lista...
[Chega agora um sms com palavras de uma antiga aluna sobre a amizade que o tempo não mata: mereço, Senhor, ser tão amada?...]
Volto a viver, de facto, cabeça fora de água. Que quem partiu me guarde para as novas metas e continue a abençoar-me com a sua presença no recanto da memória que reservamos aos que amamos, vivos ou do Outro Lado. Está reinstalada a alegria de sempre: volto a angariar infância!
(Fé-rias gran-des! Fé-rias gran-des! Fé-rias gran-des!)
Beijos com sabor a maresia!
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