2.4.06

Home, sweet... whatever em post ao contrário!



Pela casa danço aos ritmos de Mark Knopfler, o fabulástico The Ragpicker's Dream oferece-me o supra-sumo: You Don't Know You're Born! Como resistir à batida? Saio da secretária onde escrevo mais um conto sorumbático - isto de ser escritora requer o fingimento de que falava Pessoa e o tom depressivo serve bem aos lusos... - e salto pela casa, atiro o casaco, solto a longa e farta cabeleira ainda húmida do banho, espalho o odor de maçãs verdes em redor, balanço o corpo em consonância (eu, que nem gosto da imbecil Primavera!) e rio, recordo quando dançava horas a fio nos tempos da U.! É a loucura! Rio muito desta tendência para ir envelhecendo (há meses que digo que tenho quase 37 quando faltam ainda mais de três e meio!) e continuar a gostar de quebrar rotinas com pequenas diabruras que ninguém em volta espera... Já que não posso andar veloz no meu carro, ouvirei música o mais alto que possa: a passagem não afectará os moradores que não existem nas montanhas e será ainda mais divertido viajar para o trabalho, coladinha ao oceano. A música é de encher as medidas, a disposição das melhores - agora que os objectivos se encaminham para o seu cible - a qualidade de vida é a planeada, a família estabiliza-se, cresce, tendo-me aumentado o número de sobrinhos por metro quadrado e o meu colo reparte-se a cada vez por gente mais deliciosa! ;0)
O dia iniciou-se preguiçoso, ameaçando mornaceira em céu cinzento: trovoada?
Levantar tarde. Hoje não há serviço religioso: afinal, Deus sempre morou aqui.
Sair à rua: comprar flores amarelas, o jornal (há quanto tempo não compro um?), tomar a meia-de-leite do costume no café do costume, a manteiga do pão derretendo-se ao fundo da língua (gulosa, eu!), os domingueiros retirando carros vagarosos do estacionamento ao longo da minha rua, o senhor idoso que passeia o cão grita-me, acenando com um "Bom dia menina, cada vez mais radiosa!" e é incrível como ainda coro com piropos do melhor teor... Caminho, cabeleira solta na brisa - hoje não me apeteceram aristocracias-de-pose-de-trabalho-em-cabelos-apanhados-"senhora-professora" - sorrio aos pardais, compro mais um cd de Mozart, faço sorrir mais uma balconista com os meus trocadilhos de auto-riso, aceno a mais um ex-aluno (pergunto-me sempre se falhei, em que falhei, se a impressão com que ficaram é a que se espelha no sorriso, terei sido sempre correcta e terei, de facto, ensinado bem, sido justa?...), sigo para a compra de pão fresco, afago um gato que ondula sob os meus dedos cada vez mais magrinhos (quero ser uma velhinha magrinha e graciosa) e se me enrola nos tornozelos, inebriando-me até aos olhos fechados a fundo (cócegas = perigo de erogenia!) e obrigando-me a tratos em voz sussurrada "sacaninha, larga-me as canelas já!", abro o sorriso a um bebé de uns três aninhos que, do colo da avó, me fixa os olhos e me ri para o fundo deles, simpático, como se me chamasse a sorriso igualmente fundo e sentido. Correspondo, mais uma vez deliciada por esta relação mágica com todos os representantes do "Povo Pequenino": não há bebé que me resista às covinhas do riso, sendo incrível como todas as crianças me contam tudo sobre as suas vidas e ficam cúmplices do meu riso de sibila. Adivinho-lhes as almas de anjos que com esta sensitiva ombreiam...
Uma mulher
ciente da beleza
que se expande à sua volta
e em si faz-lhes votos
de um bom resto de domingo:
:0)
Beijos c/ sabor a maresia!

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