Assim era.
Por vezes, acontecia.
Os momentos estagnados eram um concerto com as cordas de violino partidas.
Não gostava disso.
Estes lapsos em que a vida se esquece de nós - o tempo de esmorecer - sabiam-lhe a qualidade nula.
Aplicava-se, então, na tarefa de juntar numa mão - a esquerda - um feixe dos longos cabelos que trazia presos na nuca e, calmamente, vasculhar varrendo de olhares a amálgama.
Invariavelmente, a luz revelava o fio branco-prata que lhe percutia os trintas avançados.
Isolava-o.
Tomava-o entre indicador & polegar direitos e, com esticãozinho seco, afastava o traidor, a mácula que o tempo semeia a despeito de elixires vários, sexo com parcimónia, vida em tudo regrada.
Sorria sempre que, com afilados caninos, os tremoços profissionais cuspiam as loas do costume: "quem se preserva não vive"...
O seu riso lupino reflectia-se em espelhos de divagação nocturna.
Muito do que era lhe ficava nas entrelinhas.
Limitava-se a agitar a pombalina cabeleira enquanto, no carro, ouvia um qualquer sucesso dos 80's silvado a plenos pulmões.
Poderia sempre lançar-se da falésia em parapente, praticar oxes em mero tantra, rir do instrutor de Tai-Chi que lhe ensinava fluidez e se encolhia quando lhe tocava a pele vibrátil da ponta de um seio. Ela até tinha dois, portanto.
A Primavera chegara com a Poesia pendurada em árvores.
Rindo de também isso, juba solta, deliciava-se em prazeres estéreis como esgazear pela beleza do seu riso Juliarobertiano os outros condutores, afagar o seu gato numa cócega de pés nus, comprar dois pardais-de-Java e um vaso de margaridas amarelas como a gema de ovo coberta com muito sal que trincava dentro de um pão com chocolate preto.
Em honra ao dia, bebeu um copo de água.
Foi dormir: havia testes para corrigir e a ela não lhe apeteciam prazeres afónicos.
Chamou pelo telefone o seu homem. Ele veio. Do resto, la ra la ra la ra... com muitos émes de mmmmm.
Todos sabemos viver: comecemos por experimentar!
O prazer maior é o das mais simples coisas.
Pim!
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