5.3.06

"A" música, a minha, a de uma vida





À excepção de Holding Back the Years dos Simply Red, obra-prima para os momentos circunspectos, a música da minha vida, a que fala de coisas tristes mas me põe nos píncaros da alegria pelos cítricos, energizantes dotes pianísticos de B. H. é, definitivamente, The Way it Is, de Bruce Hornsby And The Range.
É esta A Música
da chuva nos cabelos,
do lençol azul-marselha com cheiro a lavado que se dedobra sobre a cama fresca,
da jarra de flores amarelas,
da viagem de carro com os vidros descidos, cabelos à desfilada,
da viagem no balão de ar quente,
do espectáculo do Cirque du Soleil,
de Mozart ouvido com a Inês - cinco anos - nos meus braços de mãe-segunda,
do odor do pão quente pelas manhãs que como, olhos fechados para sentir mais,
da água singela em copo liso que bebo nos dias da sede,
do corpo que te ofereço em holocausto, a minha nuca recebendo as tuas mãos, a tua boca recebendo a língua materna que falamos, os meus olhos fechados rindo, o cicio da minha voz, o sussurro da tua, a noite nossa por inteiro,
o som das folhas do jornal,
o cheiro das folhas do livro que iguala o da relva fresca acabada de cortar,
os meus pés nus na areia gelada da praia, marcando a minha passagem fugaz no planeta, entre a espuma, a primeira vez que o pé toca na areia da praia,
fazer um saco, uma mala para partir em viagem, olhar a casa e dizer "até breve",
desfazer na boca açúcar mascavado, comer kiwi às colheres, chocolate negro derretendo sob a língua,
passar as mãos no granito, passar areia na pele, afagar um tronco de árvore,
usar lenços que esvoaçam, brincos longos, cabelos soltos na noite,
a tremura no centro do corpo quando se percebe que se ama,
caminhar entre as folhas de Outono, vermelho-sangue, bege, dourado, lilás, ouvir o restolhar do vento, o marulhar das águas,
observar os veios de uma folha na contraluz, a brisa que a agita de vida,
é o teu beijo, o teu beijo, o teu beijo,
o meu mmmmmmmmmmm que te agita o corpo em devaneios, as tuas mãos no meu rosto, o meu riso nas tuas mãos, são cabelos que me despenteias, retribuições de noite inteira, manhãs de vida plena...
É a vida em cada manhã: estou VIVA!
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