23.2.06

Da indigência... mental

No carro, ar aquecido, enrolava-me no percurso, desfazendo mistérios, desfiando os porquês do meu dia. O trabalho suplanta-me! Morta de cansaço, repouso, caminho de casa. A noite diz-me que amanhã estarei à altura. Anicho-me entre o ar condicionado e a música, nunca negligenciando a condução, coisa que amo e sempre amarei.
Do rádio, música calma: a única suportável de Madonna. Live to Tell. Viver para contar. Quem o pode dizer, de facto? Quem fica para contar?...
Interrupção do fade away do som: notícias...
Ainda recordando o clip da minha adolescência, quando Madonna era casada com o actor do filme que o "teledisco" (agora, diz-se videoclip) promovia, Sean Penn, um génio da interpretação. Penso em como ele e ela reagiam aos papparazzi, batendo, cuspindo, partindo máquinas. Analiso.
... os jovens... crime... espancamento até à morte... um indigente... Porto.
Hã?... Subo o som do rádio: pedopsiquiatras, notícias do choque de ministros e demais figuras da nação, a queda dos portugueses na realidade que as nossas escolas e as periferias de cidades tão bem demonstram, por melhor que nos seja a fé.
O quê? O quê? Mataram um homem... à pancada? Miúdos? Miúdos? Dez... miúdos entre 12 e 16 anos?... Co-mo?...
A minha mãe informa-me (não vejo tv e não tenho lido blogs nem jornais ou ouvido rádio, tal é o ritmo de trabalho) pelo telefone de que os espancamentos... foram sucessivos. Uma semana? Repita, por favor...?
Uma semana. Espancaram o homem durante uma semana... Um toxicodependente... um travesti...?
Tudo isso, tudo aquilo, o caso, a morte, o homicídio terá sido por... preconceitos?... Meu Deus, é de bradar aos céus! A Bíblia falava destes seres-crianças aberrantes, num certos "fins dos tempos"...
Que se fez?
O que é que não se fez?
Quem falhou?
Porquê?
A que ponto?
Como?...
A notícia acabou. O noticiário acabou. O radialista de serviço, contagiado, fica mudo, diz que vai pôr música que "serene os espíritos"... Na pressa, volta a Live to Tell, de Madonna, onde também as imagens documentam a delinquência e o "homem predador do homem"...
Fico a ouvir, o nó na garganta. Como, meu Deus?...
Quem falhou?
Que pais?
Que progenitores?
Que pais biológicos?
Que professores falharam?
Quem lhes ensinou o ódio?
Como se esquece isto que nos turva os olhos e o discernimento?...
Como?...
É este o mundo para a Inês?... É disto que verá, um dia, à sua volta?
"Tia, conta-me uma historinha de princesas, vá lá...", sentada no meu colo, o seu trono de ternura sem limites. Abismal, o homem-menino, o homem-carrasco... Quem sabe do que nos reservam as crianças que (hoje) amamos, Senhor?...





Live To Tell Lyrics

I have a tale to tell
Sometimes it gets so hard to hide it well
I was not ready for the fall
Too blind to see the writing on the wall
Chorus:
A man can tell a thousand lies
I've learned my lesson well
Hope I live to tell
The secret I have learned,
'till then
It will burn inside of me
I know where beauty lives
I've seen it once, I know the warm she gives
The light that you could never see
It shines inside, you can't take that from me
(chorus)2nd Chorus:
The truth is never far behind
You kept it hidden well
If I live to tell
The secret
I knew then
Will I ever have the chance again
If I ran away,
I'd never have the strength
To go very far
How would they hear the beating of my heart
Will it grow cold
The secret that I hide,
will I grow old
How will they hear
When will they learn
How will they know
(chorus)(2nd chorus)

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