tornozelos de porquinho, arrasta os seus pneus, alguns números acima da cintura que nunca teve marcada. Desliza por entre os prédios dos subúrbios como se acima da humanidade, passeia o canídeo e proclama que tem "um blog", encostando os múltiplos refegos aos amigos que faz, mão papuda sob o triplo queixo, dando-se uns ares, fingindo-se de intelecto pleno. Segue percurso, pavoneando o que de sua vida já não é privado e desprivatizando o que de muitos é suposto segredo. Pensa-se de olho clínico, tem língua de bisturi. Não podendo dar bengaladas, acena com tautaus a quem não faça vénia. A prole, profusamente usada para tecer engodo, é rede de lagrimazinha fácil, xuxus da matriarca que toda se alcovita se fareja fresca possibilidade de escalada ao grau de "socialmente existente". Poderia ser a Mónica de Sophia, mas falta-lhe a classe no cinismo. A panjorquice faz de si lugar-comum, leva-lhe para o chinelo o pé histriónico que escolhe samba em vez de valsa. Se na sua rua houvesse cabines telefónicas, seria super-qualquer-coisa, mas querem fazer-me crer que há ali muito artifício. Será Ma Baker, será a Bonnie em triplo peso, será, talvez, uma coelha Jessica. Abunda. Tresanda. Repulsivamente ostensiva, as muletas, tiques de linguagem de estação de metro com chiclete em boca aberta fazem-lhe ninho entre a mão bojuda de onde nascem teatrinhos de cordel. Acusa tendência para fazer saltar a sopa por sobre a varinha mágica, apresentar nódoas em superfícies sujeitas à social observação, pecar por excesso, odiar os felizes. Se lhe fosse dada uma line em punch de filme americano, ser-lhe-ia, por certo atirada esta: «You try too much... That's why you stink...». Por isso só, reconhece-se-lhe o direito a desodorizante com talco incorporado, de boa marca, para usar nas vernissages. O seu drama é-lhe superior: nasceu para ser a nota de rodapé com que os banais assinam a passagem pelo mundo antes de se lhes esfriar o céu da boca, mais dia, menos dia; mais adulação, menos adulação; mais fúria, menos vesícula. Tendo subido à categoria de reprodutora, suspira a satisfação da paz podre com o mundo. Conceda-se-lhe um afago: é legítimo. Tão humanamente legítimo como é verdade cortante que também a morte lhe encherá de terra a boca com que destrói. E Saramago há-de acenar-lhe de longe, quase condoído, desde a sua Passarola de génio. Nos seus sonhos - os do simulacro de mulher à qual deixo a homenagem devidamente acompanhada da continência que se faz aos líderes - afaga o Nobel da sociedade recreativa do seu bairro. Um dia, poderá dizer-se que existiu, pois efémeros são os frutos da vaidade: seca, seca, pénible herbe folle!
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* panegírico invertido à digna representante da lusa fêmea que tem, por força, de afirmar-se. Amem-na! Ela precisa.
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