Definitivamente, ridículo. Por estes dias, obrigaram Bryan Ferry (ex-Roxy Music) a pedir desculpas pelas suas opiniões... estéticas. O homem (mister charming, himself, por sinal! [Eu cá gosto! E muito.]) limitou-se a elogiar a estética da ordem que prevalece aos desfiles, aos uniformes, às botas militarizadas que se associam a uma corrente ideológica, o nazismo. Ele não afirmou que era simpatizante, que admirava o carácter de quem quer que fosse associado à Shoah ou sequer que aquela fase histórica o fascina, for God's sake... O homem limitou-se a afirmar o seu gosto pela estética da ordem das multidões, da sincronia das marchas, a formalidade dos corpos uniformizados em... uniformes. Reconheço-me no gosto pela sincronia, embora ela me assuste se aplicada militarmente, porque reconheço o horror do ímpeto de meras "máquinas humanas de morte", mas também aprecio a beleza dos corpos sincronizados, como apreciava Esther Williams rodeada de bailarinas de natação sincronizada na piscina da MGM; como aprecio - apesar de ser assumidamente hetero - as estonteantes belezas do Crazy Horse; como aprecio os padrões, a simetria da natureza ou o simples alinhamento de aves no céu. So what?... No oposto, abomino as vozes de Catarina Furtado, a distorção vocálica de Shakira ou de Bono Vox, que associo a dores excruciantes. A falta de harmonia, de ordem ou da simples graciosidade natural choca-me.
Chocam-me o tom, as ideias, a figura de louco furioso de Hitler, a sua deturpação dos conhecimentos gnósticos*, a sua obsessão sectária e assassina. Isso, contudo, não invalida que reconheça a força de uma multidão ordenada com um fito comum. Horrorizam-me as massas e o endoutrinamento, mas tal não invalida o gosto pela ordem, pelo movimento a compasso, pela grandiosidade de um "desfile de moda", mesmo que os modelos sejam militares às centenas e todos iguaizinhos. Quando essas imagens são acompanhadas de música como nos videoclips actuais, há nisso reconhecida estética. Discutível, a estética do bélico. Mas, o teor "discutível" de um gosto desobriga-nos de desculpas aturdidas, ridiculamente "correctas" e típicas de paz podre. Haverá sempre teias de aranha de sobra, mentes enviesadas, falta de clareza nos limites do esteticamente aceitável, mas... pedir desculpas? O que seria de Salvador Dali e da sua exposição de carne crua pendurada em pregos na galeria? E de Zsa Zsa Gabor? Da Sagrada Família de Gaudì? De Cândida Brancaflor? E do futebol, dos Gato Fedorento e de Herman José, ou dos casais que casam em Vegas, ou dos que aqui mesmo, na Lusitânia, alugam limusinas e promovem bailaricos e karaokes, já agora?... Alguém tinha e tem de apoiar essa gente, alinhando, ondulando, endeusando. Eu não. Não gosto. Terei de pedir desculpas?...
* Ler Hitler e as Religiões da Suástica, de Jean-Pierre Angebert, por exemplo.
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