12.1.07

Long time no see...

Passa, o tempo. Frente à imensa cinza em movimento que me espicaça de vida, repenso tudo. Ao longe, barcos de pesca, pequenos, incautos como a ousadia dos que sobrevivem, arrastam as sobras civilizacionais que se intercalam com o brilho de peixes ocasionais. Desde que me conheço e chamo ao mundo minha casa, muito mudou sob os meus pés cansados. Decido ir por onde nunca pensara antes. Seja o mar a testemunha das minhas resoluções de partida, de recomeços, de busca da novidade que me acicate à luta. Seja. Agarro no saco que, na areia ainda húmida aguarda decisões minhas. Dentro, o bilhete de ida. As fotos dos que ficam. Os lenços para choros nocturnos em avião para sempre amaldiçoado que me leve longe. A flor seca de um amor herbarizada* na memória e no bolso transparente de uma carteira oferecida num qualquer aniversário. Isto levo. Levo-te a ti no meu peito quente, outrora porto das tuas palmas glabras, mãos que amo e quero sobre as minhas quando o frio as gele. Estás aqui. No espaço que reservei para alguém estiveste sempre tu, potencialmente. Esta história - que me arranca ao morno do lugar aquecido pelo meu corpo e me ergue de um chão que já não é o meu - conteve-te sempre. Amanhã, poderemos estar mortos. Hesitaste: saio. Resta-me imaginar o que poderia ter sido tudo isto que sobrou de nós. Nunca volto atrás: morri. Esquece.
* também este vocábulo com este sentido preciso inventei eu. Também este será alvo de péssimas, execráveis fotocopiadoras?... O que meu for a mim virá, dizem-me os sábios. Com eles, corredores de fundo, envelopo-me no tempo que me (a)guarde.

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