6.1.07

Da sensatez


Amo muito as palavras. Mais do que a mim, que sou feita delas. Quando se fechem estes olhos infantis no arredondamento e na surpresa de verde escuro, quando repouse este rosto de fresco romano em doces, lapidares alisamentos de pele já inexpressiva, quando for frio este corpo, quero saber que fui sensata. Suficientemente sensata para ter enfrentado a realidade que me espicaça a cada pestanejar, a cada alimento saboreado, a cada nova respiração... Lutei contra isto com todas as minhas forças, esse sentimento terno e sem decoro a que chamo "o do A grande". Sem aviso, tomou-me vida, horas e espaços de todas as células do corpo. Odeio tudo isto a que, no seu inverso ou, talvez antes, contido no conceito-essência do sentimento-maior, sempre chamei VULNERABILIDADE. Estou pronta para que, devagar, me aproximes da morte que é, para mim, a perda da INDEPENDÊNCIA que trago no âmago desde que sei quem sou. Morro por ti, palavra-homem maléfico que Deus me envia e me toma a centelha vital, matando e devolvendo à vida. Liberta-me, então, do Bem Maior, minha LIBERDADE de peito esmagado. Já não sei quem sou. Amo-te...

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